Entrevista em quatro atos com Angela Regina Pilon, que um dia quis estudar Ecologia, mas decidiu-se pela Psicologia e agora mistura tudo com Sabedoria.
Entrevista
Como está a sua caminhada para chegar a uma síntese entre a psicologia, ecologia, sociedade, ética e espiritualidade?
Acho que o caminho está se fazendo no caminhar, nele percebo o quanto me distanciei de uma simplicidade que preciso retomar e chego a achar engraçado precisar “buscar” a síntese de coisas tão obviamente ligadas.
Como relaciona tudo?
Vejo a vida como um labirinto repleto de salas que representam as possibilidades humanas aguardando nossas escolhas. Labirintos têm becos sem saída e salas nada agradáveis, mas tudo são tentativas validas de busca quando procurarmos agir de forma sincera. Acho que o “fio de Ariadne” aparece quando percebo que posso parar, refletir e escolher de maneira consciente.
Como conceitua generosidade?
Como conceitua generosidade?
Certamente a generosidade exige um movimento interno bem maior que a justiça e isso me fascina. Ela implica em um esquecimento de si, em uma doação, não por dever ou por direito, mas por sentir a necessidade do outro. Em um livro chamado: “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” (Comte-Sponville), há um capítulo sobre generosidade que fala: “Ser generoso é saber-se livre para agir bem e querer-se assim. O homem generoso não é prisioneiro de seus afetos, nem de si; ao contrário, é senhor de si e, por isso, não tem desculpas nem as procura. À vontade lhe basta. A virtude lhe basta. (...) Ser generoso é ser livre de si, das próprias pequenas covardias, pequenas posses, pequenas cóleras, pequenos ciúmes…”.
E liberdade?
A liberdade é um conceito filosófico complexo. Certamente leva em consideração o meu desejo, o que tem sentido para mim e a responsabilidade, que nada mais é do que a resposta que dou ao mundo levando em consideração o outro.
O que é para você a sua liberdade e a liberdade dos outros?
Essa questão passa a não ser um problema quando a generosidade se alia ao conceito de liberdade não é mesmo? Afinal, queiramos ou não, estamos todos vivendo de forma interligada.
Você acha que todo ser humano tem o direito de optar por viver do modo que quiser?
Sim. Obviamente isso não quer dizer que eu aprove condutas que não levem em consideração o outro, mas que acredito que o ambiente natural do ser humano seja a amorosidade.
Acha que nossa sociedade permite que as duas (liberdade e generosidade) compartilhem da mesma mesa?
Penso nos exemplos diversos de pessoas que mesmo vivendo na nossa sociedade conseguiram trilhar seus próprios caminhos de generosidade e liberdade. Pensar em liberdade e generosidade juntas é pensar em ética e pensar em ética, é pensar em convivência. Acho que a sociedade atual prejudica o desenvolvimento pleno do ser humano: não estimula a autonomia e não favorece a cooperação. Somos diferentes, temos percepções diferentes e valores diferentes, a natureza garante a sustentabilidade dentro da diversidade, precisamos achar um caminho que vá nesta direção.
O que pensa sobre a opção de viver em função do outro?
Não faço julgamentos, acredito que todas as escolhas devam ser respeitadas como caminhos. Acho autoritário e, por isso, contra producente para a autonomia, que um só um caminho, geralmente o meu (risos), seja o válido.
Qual a real diferença entre viver em função do outro e depender do outro (dependência psicológico-emocional)?
A diferença é uma diferença de grau. A dependência não é necessariamente uma condição negativa, afinal, somos todos interdependentes. Mas, a dependência patológica, a falta de amor próprio e a dificuldade de segurança íntima são reflexos de um desenvolvimento deficiente da autonomia emocional, devendo portanto, ser trabalhados de alguma forma, para que o individuo possa se relacionar de maneira mais positiva.
Quais as diferenças entre individualidade e individualismo relacionados à agregação? Você cita em um de seus artigos:“...do individualismo para a agregação”
No individualismo você se isola e empobrece, na individualidade você doa sua unicidade e se mantém íntegro.
Quais as causas que considera que mais alimentam a dominação e a submissão?
Quais as causas que considera que mais alimentam a dominação e a submissão?
O medo. Acho que uma dentre as muitas dificuldades dos relacionamentos é elaborar os sofrimentos, às vezes inevitáveis, da convivência. Como nos falta competência emocional e ao mesmo tempo vivemos em uma cultura onde o “possuir” está ligado a uma suposta segurança emocional, passamos a objetificar as pessoas, na ilusão de termos as vantagens de um relacionamento duradouro através da dominação. A submissão vem do medo de não acreditar em si mesmo e da crença que se “formos bonzinhos” vamos conseguir que o outro permaneça sempre ao nosso lado.
Como interpreta a frase de Goethe“Seja qual for o seu sonho, comece. Ousadia tem genialidade, poder e magia”, e como acha que seria o mundo se fosse aplicada por todos no dia a dia?
Sim, é de Goethe. Assim como é dele: “Os homens trazem dentro de si não somente a sua individualidade, mas a humanidade inteira, com todas as suas possibilidades.” A única coisa que bloqueia o crescimento é a paralisia, a morte em vida...Vivamos!
2° Ato: A Terra, a Vida
As fotos são das cerejeiras do jardim da casa de Angela. Foram enviadas pela entrevistada.
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Angela Regina Pilon Vivarelli é Psicóloga formada pela PUC-SP, com especialização na área de neurologia pela Escola Paulista de Medicina. Atualmente está cursando pós-graduação na área de Desenvolvimento Moral.
Blog: Terra Agora - Facebook: Angela Regina
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