Ao sair da feira de verduras e legumes presenciei quatro cenas muito comuns. Tão comuns que nem
enxergamos mais; porém, hoje meu olhar estava um pouco mais aguçado do que o
habitual.
Cena 01: As folhas de brócolis
Na calçada em frente
à feira vi algumas caixas (mais de cinco) cheias de longas e belas folhas de brócolis.
Para onde iriam levá-las? Não sei. Apenas sei que não as vendem, pois as
cabeças de brócolis estão sempre nas estantes sem essa "roupagem". Pois é...
Fiquei pensando em quantos deliciosos refogados
e tortas com muitas vitaminas e fibras essas
folhas dariam.
Cena 02: A
vira-lata e as sacolas de lixo
Uns dez passos adiante, uma vira-lata preta (com jeito de quem
tinha alguns filhotes) conseguiu puxar três sacolas plásticas cheias de lixo que
estavam amarrados umas nos outras na calçada. Quando me viu, arregalou os
olhos e parou com as sacolas entre os dentes. Acho que pensou, não sei, que a enxotaria e
a impediria de rasgá-las. Na verdade, torço para que
ela tenha realizado seu intento e encontrado boas sobras de comida.
Cena 03: A pichação
“frase de efeito”
Vi pichado em uma parede
a seguinte frase:
“Na rua estou sem resistir
Me chamam, volto a existir”.
Quem será que a escreveu e o que será que estava pensando?. Acho que daria um longo texto, uma longa conversa, tudo o que o pichador quis dizer. Conjecturações, especulações...
“Na rua estou sem resistir
Me chamam, volto a existir”.
Quem será que a escreveu e o que será que estava pensando?. Acho que daria um longo texto, uma longa conversa, tudo o que o pichador quis dizer. Conjecturações, especulações...
A frase chamou minha
atenção porque, não sei como, ao olhar pela primeira vez, vi o nome “Maria” e, junto com o “volto
a existir”, achei que era alguma declaração de amor para alguém que anda por aí...
”Maria” é um nome comum (e incomum).
”Maria” é um nome comum (e incomum).
O acaso vai me
proteger
Enquanto eu andar distraído
Cena 04: O morador
de rua que já é “vizinho”
Mais uns passos em frente
e lá está o Magrela (morador de rua). Quando sóbrio, fica em um canto, meio
triste; quando embriagado ou drogado (não sei muito a diferença), costuma dançar
e dançar no meio da rua.
Tempos atrás ele
sumiu. Em torno de dois meses, mais ou menos. Fiquei pensando que poderia ter
desistido de viver desse jeito e buscado outro caminho. Um que lhe desse conforto
e alimento.
Ou sei lá o que pensei...
Por um lado fico
feliz que esteja de volta, assim sei que pelo menos nada de ruim lhe aconteceu.
É uma pessoa que tem opção (Tem?), pois tem uma irmã que, quando ele quer, vai para
a casa dela. O mundo dele é dele, não posso
interferir. Quando passo na rua e ele está lá, nos cumprimentamos, dou moedas, trocamos umas palavras e, vamos indo...
Conheço mais dois
moradores nessa mesma rua. Aliás, para mim, eles moram mesmo nas ruas. Cada dia percebo mais: são histórias que têm mais
de dois lados, bem mais...
A meu ver, essas cenas estão conectadas. São causa e consequência umas das
outras.
Nós gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Nós gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
A história da Gata -Saltimbancos
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração...
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração...